Claro que todos nós sabemos o que é não fazer nada – é tão fácil estar deitado no sofá a ver o tempo passar. Porém, a maioria das pessoas está demasiada ocupada para se poder dar ao luxo de ver o tempo passar e, quando tem a oportunidade de não fazer nada, não o sabe aproveitar! Continua a pensar no trabalho, na roupa que tem de ir buscar à lavanderia e na discussão de ontem à noite com a esposa.

Com esse ambiente, é impossível gozar o simples ato de não fazer nada que, para muitos, é ainda contra-produtivo. Não fazer nada pode ser uma perca de tempo, mas também pode ser uma arte. Uma arte que deve aprender a dominar porque vai melhorar a sua vida, vai ajudar a dissipar o stress e, por incrível que pareça, vai aumentar os seus níveis de produtividade na esfera profissional.

Fazer nada pode ser, para muitos, altamente stressante, porque estão habituados ao corre-corre diário, por isso, há que começar com doses baixas. Reserve 5 a 10 minutos diários para começar a praticar a arte de não fazer nada – de preferência no sossego da sua casa e não no escritório ou no centro comercial. Fazer nada em comunhão com a natureza pode ainda ser muito avançado nesta fase, opte antes pelo seu quarto ou sala de estar. O que interessa é que encontre um local e uma hora sem distrações, barulho ou outras pessoas que o possam incomodar. Desligue a TV, o portátil, tele móvel e qualquer outro meio de comunicação que possa chamar por si quando estiver ocupado a tentar não fazer nada! Pronto? Feche os olhos e não faça nada. É verdade, alguma coisa está a fazer – está sentado ou deitado e a fechar os olhos – mas a idéia aqui é se alguém chamar por si e perguntar “o que estás a fazer”, você possa realmente dizer “nada”! Ah, mas o ideal é que ninguém chame por si nesta altura, vai distraí-lo! Passados os 5 ou 10 minutos, já pode ir fazer alguma coisa, mas tente fazer este exercício todos os dias – se não praticar, não vai conseguir dominar a arte de não fazer nada.

Respiração
Praticar a arte de não fazer nada é também praticar a respiração – não pare de ler agora, não se trata de meditação, trata-se mesmo de não fazer nada! Comece por inspirar muito devagar, depois expire lentamente. Siga atentamente o seu processo de respiração – a forma como entra no corpo através do nariz e desce para os pulmões, enchendo-os. Agora, sinta a maneira como a respiração deixa o seu corpo através da boca e a sensação incrível que é esvaziar os pulmões. Se conseguir, repita isto durante 5 a 10 minutos, praticando sempre que possível e com a mente concentrada apenas numa coisa: na sua respiração.

Relaxamento
Uma das partes mais importantes de não fazer nada é conseguir relaxar completamente. Se estiver muito tenso, não vai conseguir não fazer nada! O ato de relaxar começa num local confortável e perfeito para o dolce fare niente: um sofá convidativo ou uma cama acabada de fazer. Pode ser qualquer sítio e, uma vez descoberto, sente-se, deite-se, enrosque-se e ajuste o seu corpo. Pense nos gatos – os mestres na arte de não fazer nada – e na maneira como se põem confortáveis. Pode nunca chegar ao seu nível de perfeição, mas os gatos são, sem dúvida, uma excelente inspiração! Segue-se a técnica de respiração que tem andado a praticar. Se ainda não se sentir completamente relaxado, durma uma pequena sesta ou então experimente massagear (é sempre bom ser massageado por outra pessoa, mas a auto-massagem também pode ser excelente!). Outra dica de relaxamento é uma técnica onde contrai, um de cada vez, cada músculo do seu corpo, para depois descontrair. Comece com os pés, depois as pernas e continue até às sobrancelhas. Conseguido esse estado zen maravilhoso, pense apenas na forma como pode continuar a sentir-se tão ou mais relaxado.

Não fazer nada em comunhão com a natureza
Uma vez realizadas todas as fases acima descritas, é altura de praticar esta arte na companhia da Mãe Natureza. Encontre um local sossegado – pode ser o seu próprio jardim, um parque ou floresta, à beira mar ou junto do rio – os locais com água e longe dos ruídos citadinos são ainda melhor! Em comunhão com a natureza pode praticar a arte de não fazer nada durante 20 minutos, uma hora ou ainda mais. As distrações são muito menores, o que vai permitir que se desligue completamente do seu stress. Porém, não deixe o cérebro “à solta” – concentre-se na beleza do ambiente natural, aprecie as folhas, as flores, a água, os animais, deixe-se maravilhar pela grandiosidade da natureza.

• Dedique algum tempo livre para fazer nada regularmente; é muito saudável para a sua mente, corpo e vida emocional, especialmente se você estiver exigindo demais de si mesmo. Muitas vezes, somos estimulados pela sociedade a acreditar que estar ocupado é um estado normal e natural da existência. Lembre-se: não há nenhum pecado em passar algum tempo em ócio privado. Com que freqüência você fica sem fazer nada é uma decisão sua, mas deve ser uma experiência rejuvenescedora.
• Se você não se sente confortável em ficar sem fazer nada, pode usar este tempo e energia para pensar em coisas. Assim, você não estaria fazendo “nada”, mas pensando em coisas alheias ao mundo. Este processo ajudará você a se concentrar melhor em vez de ter a sua mente trabalhando em mais de um milhão de pensamentos por minuto.
• Se você vive numa casa ou aposento pequeno, arranje um canto de uma sala com almofadas, uma vela perfumada e crie um lugar acolhedor. Se essas coisas não estiverem disponíveis, encontre apenas um lugar tranqüilo para si.
• Tente esquecer-se temporariamente daquele trabalho que tem que fazer, aquele teste para o qual tem de estudar ou aquele lugar onde tem de ir; simplesmente relaxe. Com o tempo, você aprenderá a planejar no que pensará e no que não pensará quando não fizer nada.
• Se você tem um companheiro íntimo, tente ficar sem fazer nada em conjunto.
• Se você realmente não pode encarar a idéia (ou culpa…) de não fazer nada, aprenda a pescar. Vá para a beira de um rio e diga “Não estou sem fazer nada. Estou pescando!”
• Se os seus pais perguntarem o que você está fazendo e não acreditarem que não está fazendo nada, diga que está sonhando acordado.
• Num primeiro momento, você pode se sentir nervoso, ansioso e agitado. Você está tentando descansar! Entenda que a realização do ‘nada’ não significa que você está sendo improdutivo ou irresponsável. Tenha em mente que está fazendo isto para libertar a sua mente, e, a longo prazo, prolongando a sua vida. Descansar o tempo necessário para recarregar as suas energias irá torná-lo mais produtivo, mais criativo e mais apto a se concentrar na longa jornada – isto será muito bom para o seu trabalho, escola ou qualquer outra atividade que se propor a fazer.
• Se você fica cansado enquanto tenta fazer nada, pode sempre adormecer.
• Lembre-se de não tornar esse tempo muito longo. Se o fizer, você terá necessidade de fazer alguma coisa… Ou talvez não!
• Ficar sem fazer nada muito freqüentemente poderá causar preguicite crônica.

Dolce far niente. Essa expressão italiana que significa algo como “o doce nada fazer” é muito utilizada para demonstrar a arte de não fazer nada e desfrutar desses momentos, sem nenhuma culpa. Outra expressão latina similar é Carpe Diem, ou “aproveite seu dia” que nos estimula a aproveitar o dia em cada momento, em cada instante, como saborear o alimento mais delicioso. Em um mundo corrido como o nosso em que somos cobrados pela produtividade de sempre termos que fazer mais, não importando o que já foi feito é muito importante parar um pouco e pensar sobre a sabedoria contida nessas expressões.

Recordo-me que quando estava na faculdade sempre ouvia uma pergunta típica: trabalhamos para viver ou vivemos para trabalhar? A princípio esse questionamento me parecia sem propósito, mas com o passar do anos ganhou um amplo significado. Se não tomarmos cuidado, corremos o risco de estarmos nos ocupando demais, seja na vida profissional e mesmo em afazeres pessoais e perdendo a atenção do momento presente. Ficamos tensos, ansiosos, preocupados em produzir mais e melhor e esquecemos de viver a vida, de saboreá-la, desfrutando de cada passo dado.

Quando os italianos falam em Dolce Far Ninente, eles estão dizendo, “…trabalhem, mas aprendam a saborear a vida. Coma uma boa comida, namore bastante, curta os amigos e cuide bem de seu espírito…”,isso dentre outras coisas mais. Na Espanha, o comércio fecha para o almoço e somente reabre às 16:00hs. Retomam o trabalho e finalizam às 21:00hs. Contudo aproveitam o momento do almoço com a família, para descansar e passar um tempo divertido com os amigos. É o Carpe Diem funcionando…

Que fique claro que não estou aqui para fazer apologia à preguiça, mas sim “a boa preguiça”, tão necessária para o refazimento da alma, como “o bom trabalho”. É claro que nós, brasileiros, também dominamos muito dessa arte de darmos um jetinho para curtir com os amigos. Somos engraçados, bem humorados e generosos. Mas como seres humanos, precisamos sempre nos perguntar como estão vivendo nossas vidas, afinal a morte pode chegar a qualquer momento, sem mandar avisos e nos lembrar do que deixamos de viver.

Apenas para constar: nunca ouvi ninguém falar que no leito da morte se arrependia de não ter trabalhado mais, das horas extras que não fez ou algo parecido. Normalmente as pessoas reclamam do que não viveram, dos relacionamentos que não tiveram, do tempo que desperdiçaram com bobagens e principalmente de não terem aproveitado a vida. Espero que você aproveite a sua. Dolce far niente e Carpe Diem… é o que desejo para você!

Soltar, diminuir o ritmo e parar não são apenas essenciais para chegar à iluminação, mas também cruciais para sobrevivermos na vida cotidiana. O estresse, que é causado por não saber como não fazer nada, é a mais essencial arma de destruição em massa. Tantas doenças, mentais e físicas, são causadas por estresse. Há três séculos e meio, o filósofo francês Blaise Pascal reconheceu isso quando disse, “Todos os problemas do homem vem de não saber sentar e parar”.

Em uma parte do tempo não há nada a fazer. Mesmo assim nessas horas você é incapaz de não fazer nada. Você esqueceu como é isso. Por isso você se debate inutilmente. Se você fosse sábio, quando não houvesse nada para fazer então você não faria nada! Faz tanto sentido.
Todos nós precisamos aprender a não fazer nada para que nas horas certas possamos descansar e relaxar. Felizmente, para aqueles que não tem a oportunidade de ir aos mosteiros, professores estão disponíveis em bom número na maioria das cidades modernas. Eles podem ser encontrados nos grandes cruzamentos. Eles são os semáforos. Quando a luz vermelha aparecer, ela diz “Pare!”. Essa é a prática de soltar. Você já aprendeu a não fazer nada quando o sinal fica vermelho? Ou somente o carro para enquanto você continua correndo? Se é assim, então uma oportunidade está sendo perdida. No sinal vermelho, você pode abrir sua mente ao presente e permitir a paz e a beleza inesperadas aparecerem ao seu redor. Já ouvi, mas ainda não vi, que na capital da espiritual Índia, Nova Delhi, quando o sinal vermelho se ativa aparecem cinco letras, r, e, l, a, x: relax (relaxe). Não são sinais de pare, são sinais de relaxe. Que ótima idéia. Se não é verdade, deveria ser!
Se você não reservar um tempo para aprender a não fazer nada, se você não é capaz de relaxar num sinal vermelho da vida, então brevemente você será forçado a parar num túmulo precoce. Como diz aquele ditado antigo, “A morte é o jeito da natureza forçá-lo a diminuir o ritmo”. Recomendo a meditação no lugar da morte prematura.”